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Salvar a face em Bagdade

2003/07/23

Este o ttulo de um artigo de Fred Kaplan na Slate
(http://slate.msn.com/default.aspx?id=2085822&), datado de
18 de Julho.
Trata-se de um artigo ilustrativo da leviandade,
ingenuidade ou ligeireza com que a nica superpotncia do
planeta encarou a invaso e ocupao do Iraque, bem
manifesta no caos, insegurana e animosidade popular que
so hoje o dia a dia no pas.

J no se trata aqui da legitimidade ou no da guerra, dos
mtodos inqualificveis utilizados pelas potncias
belicistas para enganar a comunidade internacional e para
enfraquecer, tornando-as irrelevantes, as organizaes
internacionais que, mal ou bem, asseguram um mnimo de
dilogo e cooperao multilateral. A guerra fez-se, tal
como esperado foi ganha pela coligao anglo-americana. Sem
querer menorizar a tragdia que uma guerra sempre
representa, essa era a parte fcil, dado o enorme poderio
militar (e no s) de um dos lados, e a reconhecida
fraqueza das foras iraquianas do regime deposto.

No artigo, Kaplan defende (tal como, agora, muitos dos
unilateralistas de h poucos meses) que a nica soluo
um mandato da ONU, englobando foras administrativas,
militares e policiais de diferentes pases.

Como exemplo de que a administrao americana apenas
pensou com os canhes e no com a cabea, Kaplan cita o que
chama um dos mais tristes documentos em que se baseou a
estratgia americana, oriundo da U.S. Agency for
International Development e intitulado “Vision for Post-
Conflict Iraq”, 13 pginas datadas de 19 de Fevereiro de
2003, que expe, em retrospectiva, toda a ingenuidade da
administrao americana.
Para alm de criteriosos clculos sobre as percentagens de
de electricidade, gua, cuidados de sade e outros
servios que seriam restaurados em poucos dias, 60 dias e
seis meses, o memorando contm a seguinte prola: “O
governo nacional ser limitado s funes nacionais, como
a defesa e a segurana, os assuntos fiscais e monetrios,
justia, negcios estrangeiros e interesses estratgicos
como o petrleo e o gs, enquanto as assembleias locais
tratariam de todos os outros assuntos “de uma forma
aberta, transparente e fiscalizvel.”

Kaplan pergunta-se se devemos rir ou chorar com este nobre
plano de erigir as fundaes da Nova Mesopotmia atravs de
uma amlgama de Jefferson e Hamilton…

claro que a realidade actual no tem rigorosamente nada
a ver com as liberais boas intenes do documento citado.

Mas a viragem para um mandato da NATO no fcil. Ainda
segundo Kaplan, se Bush s avanar para esta soluo daqui
a seis meses, parecer uma humilhante retirada, se o fizer
agora, ainda poder parecer sbio e corajoso. Muitos dos
pases que se comprometeram a enviar tropas (e o caso mais
emblemtico o da ndia) j disseram que s o fazem sob
mandato da ONU. E no nos esqueamos dos aspectos
econmicos, pois nem todos os pases so to
desinteressados como os Estados Unidos…
Se todos os contratos de reconstruo continuarem a ir
para a Bechtel e a Halliburton, ou para suas afiliadas,
ser difcil convencer os pases mais poderosos, os nicos
que podero contribur com mais do que foras simblicas…

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